Em uma mesa de bar

Sempre disse que a vida é mais bem entendida depois de alguns goles de chope e uma boa conversa entre amigos. Sobre qualquer parte da vida. Houve um tempo onde eu tinha “debates” (se é que pode ser chamado assim) acalorados sobre política (economia, vez ou outra, com alguns poucos simpatizantes do tema) e sempre acabava aprendendo alguma coisa. Mesmo que o “oponente” fosse de opinião radicalmente oposta a minha (sempre respeitei os marxistas, apesar de não acreditar que eles, de fato, existam). Mas ultimamente essas minhas mesas têm tido um “insosso” extremo.

Será que os meus amigos ficaram burros de repente? Muito pelo contrário. Estão usando argumentos cada vez mais complexos, para demonstrar suas teses (o passar da faculdade parece que faz bem, de fato). O problema é que as pessoas estão cansadas de discutir política e economia. Já não se fazem mais debates como antigamente. No máximo se faz alguma piada sobre o Renan e o fato do Lula não saber de nada. Política virou sarcasmo. Outro dia perdi meu tempo vendo as tais “meninas do Jô” (pois é, essa insônia está me matando). Do início ao fim só se tocou no assunto corrupção, em suas diferentes vertentes (se é que ela possui tantas, pois para mim corrupção é tudo igual). Não se discute os grandes projetos para o país, fala-se o óbvio e nada mais.

Passado (rapidamente) o tema da política, passa-se para a economia. Poderia ficar feliz com essa transição, pois é um tema que gosto bastante. Mas, entretanto, o pouco que se discute (salvo as exceções de praxe - e essas moram no meu coração) é superficial. Um palpite sobre o valor do dólar no final do ano, os melhores fundos para se investir, um comentário geral sobre a crise que está por vir e outras pequenas coisas. Talvez seja consenso as tais formas de se fazer um país se desenvolver, mas gostaria de discutir mais sobre isso - mesmo que alguns achem um “saco”.

Alguns chopps depois, política e economia salvaguardados, os temas do cotidiano entram na pauta. Fala-se um bom tempo (ufa!) sobre trabalho, sobre as fofocas da empresa, quem foi para onde e assim vai. Alguém toca no assunto “concurso público”, eu me revolto e vou ao banheiro, volto e o papo continua rolando. Minutos preciosos gastos em informação sobre qual o melhor curso, os melhores livros (de direito!) e outras coisas do gênero. Nesse meio tempo eu fico olhando para o ambiente, dando uma secada na mulher de alguém, pensando nas coisas que eu tenho de fazer no dia seguinte… Passando o tempo, literalmente.

Quando o assunto muda (normalmente após um silêncio constrangedor) toca-se no tema futebol. Ai a coisa esquenta. E o flamengo, vai ser rebaixado ou não? “Chama o Olavo!”, grita um tricolor. O flamenguista fica acuado, ri e dá mais uma golada. Vai falar o que? Afinal, Obina (nem de longe) é melhor do que Eto´o! Mais um silêncio, algumas tulipas (ou canecas) e a mulherada entra no jogo. Ai, o consenso volta, tudo fica tranquilo e a vida continua…

Sério. O último debate que assisti sobre política (prometo não revelar os protagonistas) foi na eleição de 2006. Um defendia o PSDB, o outro “defendia” o PT. Os dois ficaram horas (?) discutindo quem era menos pior: o Lula ou o outro rapaz do PSDB (quem era mesmo?). Não entrei na briga, pois ambos (para mim) eram (e são) farinha do mesmo saco. Votei no 12 (um milhão para quem lembrar…) no primeiro turno e anulei (pela primeira vez na minha vida) meu voto no segundo. Nesse tempo de debate fiquei complacente, vendo a mulherada (indo e vindo), tomando chopp e fazendo sei lá mais o que.

Apesar da discussão pouco produtiva, pelo menos se discutiu. De uns tempos para cá minhas conversas de bar, que eu dava uma importância quase religiosa, foram ficando insossas, sem um tempero original. Os únicos ingredientes apetitosos continuam sendo os amigos (claro!), o chopp (da brahma) e a mulherada… A política, a economia e as idéias criativas estão perecendo…

O que será que anda acontecendo? Uma hipótese que eu ando testando é que a população brasileira anda de saco cheio. Está cansada das “malas e cuecas” do dia a dia, cansou de ouvir a roubalheira dos políticos de plantão e resolveu desligar. Fazer a sua parte. Já havia notado esse comportamento (entre os meus amigos) desde algum tempo (mesmo antes da eleição de 2006) e os instittutos de pesquisa (entre os meus “não-amigos”) também. As pessoas, definitivamente, cansaram.

Isso é bom? Não, não é. Enquanto as pessoas dão de ombros, fazem piadinha, os políticos se sentem seguros para fazer o que quiserem com o dinheiro de todos nós. “Odiar política” em uma democracia representativa é algo sério, algo que só piora o já triste status quo. Mas cansar, ficar desiludido é normal. Todo mundo fica. O problema é encarar uma eleição com esse estado de espírito. Como se traduz esse sentimento? Através do voto. Muitos acham que anular voto é protesto, é coisa de “intelectual”. Continuem achando e vejam quem vai se eleger. A classe média (os “intelectuais” brasileiros) anula o voto por “protesto”, as classes de menor renda votam no “Zé do Couve” por um corte de cabelo. O protesto foi para onde? Imagine…

Eu, sinceramente, espero que essa desilusão seja passageira. Que algum dia eu possa, junto com meus amigos queridos e com meu chopp sagrado, voltar a discutir política (e, quem sabe, até economia de verdade!). Porque ficar discutindo quem é o melhor jogador (o nível está baixo demais!!!) desse campeonato brasileiro não dá, é triste demais!

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