Na tarde de 1º de janeiro de 2003 lá estava eu na "festa da posse" do primeiro presidente operário que chegara ao poder no Brasil. O "nunca antes na história desse país" começava ali. Lula é para mim um animal político, sem sombra de dúvidas. Um migrante nordestino, como tantos, de origem pobre e, se não fosse o acaso, fadado à miséria. Há muito o que aprender com os oito anos do lulo-petismo.
Não faço aqui, porém, uma análise estrita do período. Já não me empolgo com isso. O objeto é a experiência pessoal. Nesse período posso dizer que saí da esquerda e fui para a direita, sem saber o que era de fato ser de esquerda. Nem mesmo quem hoje é de esquerda sabe muito bem o que é isso. Vá lá: ser de esquerda hoje em dia - nas palavras do pessoal do novo-desenvolvimentismo - é aplicar uma política econômica que gere crescimento com inclusão social.
Eu acho muito bonito isso. Sério: crescer e incluir. O problema é que uma coisa leva a outra, não? Ora, se o PIB do país cresce, mais pessoas são demandadas como mão-de-obra, logo mais pessoas auferem renda e podem consumir. Estão incluídas, não? E a luta da esquerda, como é que fica?
A esquerda de antigamente queria um "mundo melhor". Com esse objetivo eles se abstiveram de todo o conforto, foram para festivais malucos, montaram barracas e por lá ficaram curtindo um rock´n roll show de bola. Maneiro, não?
Colocavam umas camisas legais, com a figura do Che e dizeres legais, do tipo "não perder a ternura" e coisa e tal. Era um mundo diferente, do tipo alternativo, que lutava contra a direita safada faminta por lucros e sempre querendo explorar o proletário sofrido. Mas, e ai?
Tem muito ex-comuna que agora é presidente(a) (Né não Dilma?). Mas eles dizem que o mundo mudou e era preciso se adaptar. Ora, quer melhor adaptação do que aplicar uma política econômica que faz crescer e distribui renda? Tá, eu sei que é difícil para o povão perceber que eu estou falando do Lula. Para ser mais honesto ainda, eu sei que é difícil pra cacete para esse pessoal ex-esquerda - que ainda acha que a esquerda existe - entender o que eu estou dizendo. Enfim, a essência é o seguinte: tudo o que o Lula fez foi continuar o que o Collor começou.
Em pensar que em 89 lá tava o barbudão colocando medo no empresariado todo. Quem diria que essa mesma galera iria se esbanjar do crédito subsidiado do FAT, hein? E foi assim, sem querer querendo, que o Lula se apoderou dos três governos anteriores e disse: não, eu inovei, eu fiz tudo sozinho e bla, bla, bla.
Mas é por isso mesmo que eu continuo achando que Lula é um cara fora de série. Ele conseguiu fazer com que mais de 80% da população acreditasse que ele - o governo dele - fez tudo isso que está ai (que, acreditem, não é essa maravilha toda!) sozinho. O brasileiro médio acha que daqui a 10 anos o Brasil se tornará um país desenvolvido. É o mesmo cara que lê no máximo 2 livros por ano, mas isso é papo para outra crônica, bem mais leve, daqui a duas semanas. O fato concreto é o seguinte: Lula é o kara!