Só o amor explica?

Há uma linha ténue entre amor e loucura. Ambos são caracterizados por total ausência de razão. E, nos dois casos, mesmo que em diferentes graus, existe uma falta de amor próprio. Ora, o ato de amar alguém exige que se retire o foco de si mesmo. E enlouquecendo-se, jaz o último suspiro de respeito de si próprio.

E o que dizer sobre torcer por um time de futebol? Passar 1 hora em uma fila para comprar ingresso, aguentar calor, sede e demais desconfortos para assistir a 22 caras correndo atrás de uma bola. Correndo não, andando atrás de uma bola. Dando pouco sangue, desrespeitando aqueles que lá estão para assistir a um jogo de futebol. Isso é amor ou loucura?

E o que dizer do clube de futebol? Clube este que deixa apenas três guichês abertos para um público de nove mil pessoas. Passar anos a fio torcendo para um time de futebol que é administrado por senhores e senhoras de índole duvidosa. Pessoas estas que enriqueceram no curso de seus respectivos mandatos. Isso é amor ou loucura?

Ora, o que é um clube de futebol? Não é um armazém que vende maças e bananas, isso não é mesmo. Um clube de futebol oferta um bem precioso: paixão. Torcer para um time de futebol, afinal, não é apenas assistir à jogos e querer que um dos dois vença. Ser torcedor é identificar uma paixão, um amigo, alguém com que compartilhar uma História e viver bons momentos. Isso é, portanto, amor.

Aguentar que o seu amor, o seu clube de futebol, seja administrado anos a fio de forma irresponsável por meia dúzia de incompetentes, isso é outra coisa. Senhores e, sim, senhoras, de índole duvidosa, cuja competência administrativa é nula. Pessoas que acreditam estarem administrando sim uma banca de jornal ou uma quitanda de frutas. Acham que vendem jornais ou maças e bananas. Aturar isso é loucura.

Acabou. Estou farto de não conseguir comprar um ingresso pela internet, no conforto da minha casa. Estou farto de não poder comprar todos os ingressos da temporada antes que ela começe com um razoável desconto. Estou farto de ter de frequentar estádios que caem aos pedaços, cujos sanitários são horríveis e não há a menor estrutura para suportar um jogo de futebol. Estou incrivelmente farto de ver o meu clube sendo administrado por quem nunca frequentou aulas de marketing, finanças e administração.

Não quero muito. O que quero é que tais senhoras e senhores percebam o produto que vendem. Quero um basta nesse modelo de pacto colonial, onde nós, os tupiniquins, exportamos jogadores, matérias primas e eles, os europeus, as manufaturam em seus ricos campeonatos nacionais. Não. O que quero é poder comprar o meu ingresso de forma confortável, chegar ao estádio por um sistema de transporte público de massa eficiente e sentar na minha cadeira numerada, que estará lá me esperando. O que peço não é muito: apenas respeito.

Há coincidências aqui. O meu clube, o Vasco da Gama, de História gloriosa, encontra-se em crise. Mas não escrevo essas linhas apenas por ser Vascaíno. Escrevo aqui o repúdio de quem quer que o seu amor seja respeitado. E não quero isso de graça. Pago por isso em todos os jogos que vou. Não quero privilégios, não quero gratuidade. O que quero é não ser taxado de louco. O que exijo é apenas respeito. E isso, leitores, está longe de ser uma exclusividade vascaína.

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