Perspectivas para 2014

O ano de 2013 foi bastante trabalhoso para nós, economistas, leitor. Se o mundo andava meio insosso antes da crise, com poucas equações e muitas certezas vindas da teoria econômica mainstream, as coisas mudaram radicalmente nos últimos cinco anos. O modelo teórico que 9 em cada 10 economistas tinha em mente quando pensava, por exemplo, em condução da política monetária teve de ser ampliado, para incorporar as novas variáveis que os bancos centrais estão preocupados. A macroeconomia dos ciclos econômicos, que buscava explicar as flutuações no nível de atividade por conta de choques de oferta, de demanda ou de produtividade teve de incorporar um mercado financeiro volátil e extremamente complexo. Autores como Keynes, Marx e Minsky foram relidos (ou lidos pela primeira vez) por muitos. Apesar disso, não está nada claro se o processo de reinvenção (ou redenção?) da macoeconomia está completo. O mundo continua com uma recuperação frágil, necessitando ainda dos estímulos vindos da política econômica. E dado isto, quais são as perspectivas para a economia brasileira em 2014? E o Banco Central brasileiro, tão criticado nos últimos tempos, os ventos são favoráveis?

O ano que vem será difícil, leitor, para a economia brasileira. Há economistas, inclusive interlocutores do governo, que nomeiam a combinação de rebaixamento do rating brasileiro pelas agências de classificação de risco com o início do fim dos estímulos do banco central norte-americano de "tempestade perfeita". Ainda que a ocorrência de tais eventos seja pouco provável no primeiro semestre, é difícil não temer sua realização. Afinal, a situação fiscal brasileira, ao contrário do que pode pensar, por exemplo, o banco central brasileiro, não dá sinais de que melhorará em 2014. E isso pode, sim, suscitar uma reavaliação por parte das agências de classificação. Ademais, o FED uma hora ou outra reavaliará o programa de compra de títulos de mais longo prazo de maturação, haja visto o custo fiscal imposto por essa iniciativa. Provável ou não sua dupla ocorrência no ano que vem, o fato concreto é que já começaremos 2014 intranquilos, com o cenário macroeconômico sujeito a fortes trovoadas.

As perspectivas para 2014 e a busca pela credibilidade perdida por parte do banco central brasileiro é o tema que exploro na Carta de Conjuntura desse mês no GECE/UFF. Faço uma breve análise das principais variáveis macroeconômicas nos últimos anos, incluindo ai nível de atividade, inflação, balanço de pagamentos e desemprego. Após isso, estimo os efeitos de uma desvalorização do câmbio sobre os preços domésticos - conhecido na literatura como pass-through. O problema norte-americano e a ainda cambaleante situação do mercado de trabalho é analisada em seguida. Por fim, concluo a carta examinando o que deve permear a autoridade monetária se o objetivo for de fato recuperar a credibilidade.

Os tempos, afinal, são mesmo difíceis, o mar é revolto, como cita Ben Bernanke, o até então presidente do Federal Reserve. Não se deve, entretanto, confundir tempos difíceis com licença para cometer todo o tipo de atrocidades. Não foi isso, por exemplo, que fizeram Chile, Peru e Colômbia, países que apresentam situação macroeconômica muito melhor do que a brasileira - inclusive em termos de crescimento. Se em 2013 nosso crescimento per-capita será em torno da nulidade (descontado efeitos estatísticos), para 2014 não se espera nada de melhor. Em síntese, a nova matriz macroeconômica, inventada ao sabor de visita a um passado inglório para o desenvolvimento brasileiro, não vai mostrando resultados muito saborosos - como já era sabido, ex-ante, por quem se deu o trabalho de ler o livro-texto. E mesmo aqueles que leram apenas de orelha os autores supra-citados (Keynes, Marx e Minksy, os mais famosos), nós, economistas sérios, temos de alertá-los para os capítulos que realmente importam: nesses, tais autores rejeitam completamente o que foi feito nos últimos anos. No Brasil, principalmente.

Espero com a carta contribuir com o entendimento do leitor sobre os desafios que estarão em cena no próximo ano, com ênfase no campo que tenho maior afinidade, a política monetária. A carta pode ser lida na íntegra aqui. Abraços e bom dezembro!

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