Acessando dados do Censo Demográfico com o R

O Censo Demográfico é a maior operação de recenseamento no país, produzindo dados demográficos, econômicos e sociais sobre a população brasileira. Através dos microdados, menor nível de desagregação da pesquisa, podemos construir análises, fazer cruzamentos, realizar estudos e pesquisas de interesse. Neste exercício mostramos como dar o primeiro (e difícil) passo: importar os arquivos de texto formatados em ASCII no R.

Dado a complexidade e volume dos microdados, os arquivos de download são sempre acompanhados de uma documentação auxiliar que fornece os nomes, os códigos e as descrições das variáveis e suas categorias, complementada, quando necessário, dos elementos necessários para o cálculo dos erros amostrais. Ambos estes elementos, microdados e documentação, são essenciais para a correta leitura e análise de dados.

Dessa forma, neste exercício iremos exemplificar a importação dos microdados do Censo 2010, referente ao estado do Rio Grande do Sul. Para saber mais sobre os detalhes e informações do Censo, consulte o site do IBGE.

Pacotes

Para reproduzir o exercício a seguir você precisará dos seguintes pacotes:


library(lodown) # [github::ajdamico/lodown] v0.1.0
library(magrittr) # CRAN v2.0.1
library(dplyr) # CRAN v1.0.7
library(stringr) # CRAN v1.4.0
library(fs) # CRAN v1.5.0
library(SAScii) # CRAN v1.0
library(readr) # CRAN v2.0.2

Baixar dados

Existem algumas opções de acesso aos microdados do Censo Demográfico: diretamente no site, através de pacotes, de consultas em banco de dados, arquivos offline, etc. Em todos os casos, é necessário especial cuidado devido a complexidade e dimensão dos dados. Neste exemplo focaremos em reprodutibilidade, portanto, usaremos o pacote lodown que facilita o download dos arquivos de microdados e sua documentação.

A função get_catalog nos fornece diversas informações sobre os microdados abrangidos atualmente pelo pacote. Na posse dessas informações, aplicamos filtros para o Censo de 2010 referente ao estado Rio Grande do Sul e, por fim, baixamos os microdados com a função lodown:


# Buscar catálogo de microdados, aplicar filtros e baixar arquivos
catalog <- lodown::get_catalog(data_name = "censo", output_dir = "data") %>%
dplyr::filter(year == 2010, stringr::str_detect(state, "rs")) %>%
lodown::lodown(data_name = "censo")

# Arquivos baixados
fs::dir_tree(path = "data")

# data
# \-- 2010
#     \-- RS
#         +-- Amostra_Domicilios_43.txt
#         +-- Amostra_Emigracao_43.txt
#         +-- Amostra_Mortalidade_43.txt
#          \-- Amostra_Pessoas_43.txt

Importar dados

Com os arquivos disponíveis localmente, podemos prosseguir agora para a importação. Nesta etapa é importante definir quais variáveis serão de fato utilizadas - já que há um grande volume de observações que podem causar lentidão no computador por restrição de memória -, fazemos isso no objeto vars_censo. Em seguida, convertemos as instruções de importação (layout) do arquivo Amostra_Pessoas_43.txt para o formato de um data.frame, visando usar estas instruções - de largura e tipo de colunas - na importação através da função read_fwf:


# Variáveis a serem importadas
vars_censo <- c("v0001", "v0601", "v6036", "v0010", "v0011", "v0300")

# Converte arquivo de instruções de importação SAS para o R
sas_input <- SAScii::parse.SAScii(catalog$pes_sas) %>%
dplyr::mutate(varname = stringr::str_to_lower(varname))

# Importar arquivo TXT
raw_censo <- readr::read_fwf(
file = catalog$pes_file,
col_positions = readr::fwf_widths(
widths = abs(sas_input$width),
col_names = sas_input$varname
),
col_types = paste0(
ifelse(
!(sas_input$varname %in% vars_censo),
"_",
ifelse(sas_input$char, "c", "d")
),
collapse = ""
)
)

Estrutura dos dados importados:


dplyr::glimpse(raw_censo)

# Rows: 1,388,443
# Columns: 6
# $ v0001 <chr> "43", "43", "43", "43", "43", "43", "43", "43", "43", "43", "43"~
# $ v0011 <chr> "4300034001001", "4300034001001", "4300034001001", "430003400100~
# $ v0300 <dbl> 60085, 60085, 65479, 65479, 65479, 81979, 81979, 81979, 81979, 8~
# $ v0010 <dbl> 2.814269e+13, 2.814269e+13, 2.842956e+13, 2.842956e+13, 2.842956~
# $ v0601 <chr> "1", "2", "2", "2", "1", "2", "2", "1", "1", "2", "1", "2", "2",~
# $ v6036 <dbl> 31, 74, 8, 39, 39, 16, 13, 11, 9, 38, 7, 10, 31, 47, 2, 8, 6, 38~

Próximos passos

Com os dados brutos em mãos, o recomendável é usar um framework que suporte a construção de objetos que representem um desenho amostral complexo. Para essa tarefa, recomendamos o uso do pacote survey, que traz diversas facilidades e é usado amplamente, inclusive pela equipe do IBGE.

Seguindo este procedimento podemos chegar, por exemplo, a análises como essa:

Referências

Analyze Survey Data for Free: Brazilian Censo Demografico (Djalma Pessoa)

 

Compartilhe esse artigo

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email
Print

Comente o que achou desse artigo

Outros artigos relacionados

Como Construir um Monitor de Política Monetária Automatizado com Python?

Descubra como transformar dados do Banco Central em inteligência de mercado com um Monitor de Política Monetária Automatizado. Neste artigo, exploramos o desenvolvimento de uma solução híbrida (Python + R) que integra análise de sentimento das atas do COPOM, cálculo da Regra de Taylor e monitoramento da taxa Selic. Aprenda a estruturar pipelines ETL eficientes e a visualizar insights econômicos em tempo real através de um dashboard interativo criado com Shiny, elevando o nível das suas decisões de investimento.

Qual o efeito de um choque de juros sobre a inadimplência?

Neste exercício, exploramos a relação dinâmica entre o custo do crédito (juros na ponta) e o risco realizado (taxa de inadimplência) através de uma análise exploratória de dados e modelagem econométrica utilizando a linguagem de programação R.

Qual a relação entre benefícios sociais e a taxa de participação do mercado de trabalho?

Este exercício apresenta uma investigação econométrica sobre a persistente estagnação da taxa de participação no mercado de trabalho brasileiro no período pós-pandemia. Utilizando a linguagem R e dados públicos do IBGE e Banco Central, construímos um modelo de regressão linear múltipla com correção de erros robustos (Newey-West). A análise testa a hipótese de que o aumento real das transferências de renda (Bolsa Família/Auxílio Brasil) elevou o salário de reserva, desincentivando o retorno à força de trabalho.

Boletim AM

Receba diretamente em seu e-mail gratuitamente nossas promoções especiais e conteúdos exclusivos sobre Análise de Dados!

Boletim AM

Receba diretamente em seu e-mail gratuitamente nossas promoções especiais e conteúdos exclusivos sobre Análise de Dados!

como podemos ajudar?

Preencha os seus dados abaixo e fale conosco no WhatsApp

Boletim AM

Preencha o formulário abaixo para receber nossos boletins semanais diretamente em seu e-mail.