Impressões sobre o debate na Band

Ontem foi realizado o primeiro debate a presidente. Seria simplesmente cômico, não fosse uma bela piada de mal gosto. A presença dos candidatos "nanicos" deu um tom hilário ao evento. Para quem estava em dúvida em quem votar, deve ter sido difícil separar propostas concretas de meras divagações sem sentido. Abaixo faço brevíssimos comentários sobre a fala dos candidatos.

Levy Fidelix (PRTB): Um candidato soberbamente caricato. Tentou emplacar o imenso custo de refinanciamento como razão para se solicitar a auditoria da dívida pública. Como é costume nessa visão de mundo, abusou de culpar os bancos e os banqueiros pelos juros elevados e propõe a auditoria e consequente moratória de parte da dívida. Ao questionar qual dos "três grandes" ainda não havia sido perguntado, inferiu que lhe "restava bombardear a Marina". Sinceramente, esse tipo de candidato contribui muito pouco para um debate sério sobre a economia brasileira.

Eduardo Jorge (PV): Ganhou o prêmio "sem noção" da noite ao indagar "independência de quem?", quando perguntado sobre a independência do Banco Central. Senti pouca ou nenhuma firmeza nas colocações e muito pouca disposição para ser, de fato, candidato a presidente: parece concorrer apenas para dar visibilidade aos candidatos legislativos do partido. Apenas deu um tom jocoso ao debate.

Pastor Everaldo (PSC): O dito "candidato liberal" se atropelou em suas convicções. É a favor da liberdade, mas casamento é apenas entre homem e mulher. É a favor do estado mínimo, mas quer criar mais um ministério, o da segurança pública - quando já existe o da justiça. Pertence à esquerda desde a redemocratização, mas é a favor do empreendedorismo, da livre iniciativa. Sinceramente, minha impressão é que deve estar uma confusão na mente dele nesse momento.

Luciana Genro (PSOL): Dos "nanicos", a Luciana foi a mais coerente e consistente em suas explanações. Não fez do debate um circo e tentou apresentar sua visão de mundo de forma clara e bastante incisiva. Entende que o modelo econômico deveria ser outro e, por isso, é contra o "capital". Ao menos representa bem sua visão de mundo e acho que deveria ir para um debate mais centrado em ideias, dado que há ainda uma parcela da população que acredita em suas ideias.

Aécio Neves (PSDB): Foi claro e consistente em suas colocações. Enfim, um candidato tucano resolveu defender o governo FHC. Falou da estabilidade e das reformas da década de 90. Tocou em assuntos delicados para o PT, como o caso petrobras e divulgou o nome do seu ministro da fazenda, o economista Armínio Fraga, inédito para a corrida presidencial no país. Achei que foi bem para o primeiro debate.

Marina Silva (PSB): Foi consistente e firme em suas declarações. Não se intimidou com as perguntas difíceis sobre o que seria a "nova política" que defende. Não se escondeu por ter participado do governo do PT. Tentou dar forma a visão abstrata do que seria "governar com os melhores quadros de todos os partidos". Respondeu todas as perguntas que lhe foram feitas de forma bastante convicta e honesta. Saiu com a impressão de que assume com grande vantagem a segunda colocação na disputa. É hoje a candidata com maior potencial na eleição.

Dilma Rousseff (PT): Demonstrou insegurança e nervosismo em suas colocações. Tem dificuldades para emplacar um discurso mais linear. Se confundiu em alguns pontos como, por exemplo, ao citar que a "inflação está no limite da meta há 9 anos", depois de ter dito que a "inflação está sistematicamente sendo reduzida". Se equivoca em algumas falas, tendo de retomar o raciocínio. Insiste em lembrar o governo FHC, fazendo um contraponto ao PSDB. Não me parece, nesse aspecto, que o PT tenha entendido o recado das últimas pesquisas: o inimigo agora é outro. E o nome dele é Marina Silva!

Eu considero que não deu para tirar a dúvida de quem estava em dúvida. Foi muito disperso o debate, com muitas falas cômicas que tiram a atenção do que realmente importa. Além disso, a audiência da Band foi apenas a 4ª, logo muita gente não assistiu, o que deixa a disputa aberta para o debate da Globo...

 

Compartilhe esse artigo

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email
Print

Comente o que achou desse artigo

Outros artigos relacionados

Transfer Learning: mostrando porque o Python está na ponta do desenvolvimento

A aprendizagem por transferência (transfer learning) é o reuso de um modelo pré-treinado em um novo problema. Portanto, sua utilização torna-se um avanço enorme para a previsão de diferentes tipos de variáveis, principalmente para aquelas ordenadas no tempo. Mostramos nesta postagem o uso do Transfer Learning com o Python para o caso de Séries Temporais.

Criando Tabelas com o Python: mostrando o poder da linguagem sobre o Excel

Nos dias atuais, pessoas que trabalham com dados estão constantemente confrontados com um dilema: criar uma tabela não tão genial no Excel ou manter em um formato ainda pior, como um dataframe, mas mantendo a flexibilidade de obtenção dos dados. Podemos resolver esse grande problema, unindo a flexibilidade e beleza ao usar a biblioteca great_tables do Python.

como podemos ajudar?

Preencha os seus dados abaixo e fale conosco no WhatsApp

Boletim AM

Preencha o formulário abaixo para receber nossos boletins semanais diretamente em seu e-mail.