Imagine que você precisa de alguma medida de PIB mensal para rodar, por exemplo, uma curva de phillips. As opções até então disponíveis no mercado eram um PIB nominal do Banco Central, o IBC-BR também do Banco Central, a produção industrial do IBGE ou alguma medida de capacidade ociosa, da CNI. Todas pecam, entretanto, por não anteciparem adequadamente os resultados do PIB trimestral do IBGE, dado que não seguem a metodologia oficial do orgão. Servem, apenas, como proxies do que acontece com o nível de atividade. Pensando nisso o pessoal do IBRE/FGV tem desenvolvido, desde o ano passado, um trabalho para construir uma série de PIB mensal baseada na metodologia do IBGE para o resultado trimestre. O gráfico ao lado mostra essa medida de PIB comparada a sua tendência, construída via filtro HP. Repare na ponta do gráfico: o dado de julho, mesmo sendo uma recuperação em relação ao mês anterior, ainda está abaixo da tendência. Ou seja, o hiato do produto ainda estaria em terreno negativo.
O índice foi construído "pelo lado da oferta", com início em 2000, devendo conter os dados da demanda em um futuro próximo. Ainda não está disponível nota técnica sobre a metodologia do índice, mas é um alento para quem costuma precisar de dados de nível de atividade de "alta frequência". O gráfico abaixo mostra o comportamento dos três setores - se fosse uma corrida, a indústria estaria perdendo feio hein...
Apenas a título de exercício sem maiores pretensões, eu tomei a série encadeada do índice sem ajuste sazonal e rodei um modelo simples para ver qual seria a taxa de crescimento acumulada do ano. A regressão é posta abaixo.
Com esse modelo, sujeito a toda a sorte de críticas, o PIB chegaria a uma taxa de crescimento em 2014 próxima a 0%. O banco Itaú, por exemplo, recentemente reviu sua projeção para 0,1% de crescimento esse ano. Abaixo está um gráfico com exercício semelhante feito para a série com ajuste sazonal.
Significa dizer que a "estagflação" brasileira está no preço para esse ano. E 2015, será melhor? O resultado das urnas, em novembro, é quem melhor responderá, viu... O novo índice pode ser acompanhado com o título de "Monitor do PIB" na página do IBRE... 🙂
(*) Agradeço ao professor Cláudio Considera por me enviar os dados.