Prosa

Madrugada quente no Rio de Janeiro. Para distrair o vazio do quarto e a insônia que já me acompanha há anos, releio Dom Casmurro. Esbarro, como um bêbado em dia de ressaca, por mais de uma vez, com os “olhos oblíquos e dissimulados de Capitu”. Na primeira passo batido, assim como na segunda. Na terceira vez que releio essa passagem, entretanto, um raio cai em minha cabeça: penso na Ana.
Nos últimos anos tenho tido um sentimento paradoxal pelo mês de dezembro. Não é coisa outra que não seja uma caduquice precoce, dessas de meia-idade. O fato é que me sinto o melhor dos homens na primeira quinzena do referido mês. Vai chegando o dia 20 e lá estou eu, mergulhado em profunda melancolia. Apesar de parecer ao leitor cético mais uma patologia dos tempos modernos, é coisa que se explica.
Foi um encontro casual, desses rotineiros sob os quais me acostumei ao longo do tempo. Estava em uma livraria, na Sete de Setembro, em uma sexta-feira, como de costume para aliviar o stress. Ela igualmente. Eu folheava Dom Casmurro pela enésima vez, acompanhado que estava de um merlot argentino de boa estrutura, mas não tão encorpado como eu gostaria que fosse. Ela parecia entediada, com o olhar disperso, folheando o primeiro livro que saltava a sua frente. Ia de Freud a Paulo Coelho, como quem atravessa a Rio Branco sem olhar para o lado.

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