
O beco, leitor, é o que alguns veem. A paisagem, a Glória, a baía e a linha do horizonte, é o que 54% das respostas a outra pesquisa, a da CNI-Ibope, parecem se atentar, de outra feita, aprovando o governo federal. E a causa disso é basicamente o que ilustra o gráfico acima. Nele é possível verificar o comportamento do desemprego e do rendimento real desde a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, em setembro de 2008. Como era esperado, a correlação entre ambas as séries é negativa (-0,87), isto porque reduções de desemprego implicam em escassez relativa do fator trabalho, elevando o seu preço, que é o salário real.
A elevação do salário real, nos últimos anos, é o que vem dando números tão superlativos para a avaliação do governo federal, em última instância. Se a renda das pessoas está aumentando, afinal, todas as outras coisas - o beco, no caso - parecem mesmo difícil de perceber. É o que mostra a série histórica da pesquisa CNI-Ibope, mostrada no gráfico abaixo.
Retirando as duas últimas pesquisas, muito influenciadas pelas manifestações, a média de desaprovação do governo fica em 19%, enquanto a aprovação situa-se em 74%. Os dados parecem estar em sintonia com o avanço da renda real, dado o baixo desemprego do período. Mesmo a despeito da inflação medida pelo IPCA nos últimos 33 meses ter ficado em 6,1%, bem acima da meta de inflação ou o crescimento do produto nos últimos dez trimestres ter sido de 2,6%, ambos no acumulado em 12 meses. Se existe uma variável que parece sugerir maior sensibilidade para aprovar/desaprovar um governo, o analista deve se concentrar no comportamento da renda ou do desemprego. Algo que eu próprio farei em algum momento nesse espaço.
Em assim sendo, ainda que o beco da política macroeconômica, com pífios resultados, cause estranheza a princípio, é o céu de brigadeiro representado pelo avanço da renda real que garante tranquilidade ao Planalto. Bandeira e a maior parte dos economistas talvez olhe para aquele, mas a população tende a se concentrar neste.
