
O gráfico acima resume o comportamento da inflação de serviços, dos núcleos construídos e do desemprego dessazonalizado. A construção dos núcleos baseia-se no "núcleo por exclusão", isto é, retira-se alguns itens do índice, recalcula-se os pesos dos itens que sobraram e somam-se suas contribuições ponderadas por seus respectivos pesos. Além disso, para o período de julho de 2006 a dezembro de 2011 foi considerada a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2008, ao contrário da série original do Banco Central, que utiliza a POF 2002. A maior diferença entre as duas é a inclusão de passagem aérea e alimentação fora do domicílio como serviços, quando antes aquela era considerada preço monitorado e esta bens não duráveis. Feito isto, acumula-se as séries em 12 meses.
Dito isto, uma comparação imediata é entre a série original do Banco Central e a série ajustada pela POF 2008. Percebe-se claramente que a inflação de serviços seria ainda mais elevada para o período anterior a janeiro de 2012, se considerarmos os gastos da POF 2008, principalmente pela inclusão do item alimentação fora do domicílio.
Nesse contexto, um primeiro núcleo muito utilizado é aquele que exclui dos serviços o item passagem aérea. A razão para isso é que ele oscila muito ao longo dos meses, não sendo incomum registrar aumentos acima de 20%. Com efeito, ao retirar esse item, a série fica um pouco mais suave ao longo do tempo. A segunda exclusão, que tem grande efeito tanto sobre a série ajustada quanto sobre a série original é considerar os serviços sem alimentação fora do domicílio e sem passagens aéreas (a linha laranja pontilhada).
Meu objetivo inicial, entretanto, era entender melhor um boxe do Banco Central, que coloca grande relevância na inflação de serviços sobre dois subgrupos: i) alimentação fora de domicílio e passagem aérea e ii) serviços intensivos em mão de obra. Para o banco esses dois grandes subgrupos foram responsáveis por quase 55% da inflação de serviços. Retirando os mesmos, entretanto, o que é mostrado pela linha roxa clara (núcleo 3), observa-se que, ainda assim, a inflação de serviços estaria em 7,6% no acumulado até abril. Ou seja, rodando acima do teto da meta de inflação.
O subgrupo "serviços intensivos em mão de obra" inclui os seguintes subitens: mão-de-obra, médico, dentista, fisioterapeuta, psicólogo, costureira, manicure, cabeleireiro e empregado doméstico. Utilizariam mais mão de obra do que os demais serviços.
A conclusão que se pode tirar disso é que por qualquer lado que se olhe, excluindo preços que oscilam mais ou que tem maior impacto sobre o índice, a inflação continua elevada. Desse modo, não se trata de pressões localizadas. A inflação de serviços, mais do que a de bens ou de monitorados, reflete intensamente o descolamento entre salários e produtividade vivenciado no período recente pela economia brasileira. E esse descolamento está intimamente ligado à condução expansionista da política econômica, como já tratei algumas vezes nesse e em outros espaços. Ao longo das próximas semanas trago outros aspectos interessantes do estudo da inflação de serviços, inclusive aquele que "limpa" a inflação cheia da inflação de serviços.