Enfim, banco central age como banco central?

A propósito do que coloquei no post anterior, o Banco Central ratificou na ata divulgada ontem que não deve reduzir a Selic esse ano.

"Ainda assim, o Comitê antecipa cenário que contempla inflação resistente nos próximos trimestres, mas, que, mantidas as condições monetárias – isto é, levando em conta estratégia que não contempla redução do instrumento de política monetária – tende a entrar em trajetória de convergência para a meta nos trimestres finais do horizonte de projeção".

Já li quase todos os documentos - atas - divulgados pelo banco e não lembro dele ter sido tão claro assim em outro momento. Foi uma gota de esperança diante da perda de credibilidade sofrida nos últimos tempos, expressa no fato do mercado se manter cético em relação a que o mesmo pode fazer - em termos de controle da inflação. Como salientei no post anterior, só essa interpretação justifica o mercado ter reduzido os juros futuros por causa do comunicado pós-decisão.  Desse modo, a resposta enfática – e inédita até onde eu lembro – do banco contribui para guiar as expectativas. Estaríamos assistindo à redenção do banco central brasileiro?

Foi o que eu pensei antes de ver o destaque que a imprensa deu às medidas macroprudenciais de hoje.  Ao que parece, existe uma luta interna no banco: há os que querem operar a política monetária de forma clássica, há os que insistem em medidas heterodoxas... Por um lado o banco central age, de fato, como banco central. Por outro, entretanto, continua agindo como governo, míope em relação ao que acontece com o mercado de trabalho e com a inflação. Até quando?

Update: modifiquei um pouco o post (adicionei a parte em vermelho e coloquei a interrogação ao invés da exclamação no título) ao observar o destaque que a imprensa deu às medidas prudenciais divulgadas hoje. Continuo achando que não haverá impacto concreto dessas medidas no curto prazo - por isso havia ignorado sua divulgação na primeira versão do post -, mas o fato delas terem sido divulgadas soa contraditório com o caminho delineado na ata de ontem. E isso pode, de fato, contribuir para continuar deixando o mercado confuso sobre o que quer o banco central: ontem tivemos uma evidência de que ele estava, de fato, preocupado com a inflação. Hoje, continuamos não tendo tanta certeza. Ao menos, não pelos próximos meses, dado que, se o mercado fosse racional, ignoraria as medidas divulgadas hoje, posto que elas terão pouco ou nenhum efeito sobre o crédito, mas como o mercado não é, acaba tendo dificuldades de extrair o sinal emitido pela política monetária, a priori contraditórios entre si. Ou seja, o banco perdeu uma chance, na verdade uma bela oportunidade, de dar uma resposta ao mercado, recuperando credibilidade. Uma pena...

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