Hackeando o R: Modelos lineares mistos

No Hackeando o R de hoje, vamos mostrar como realizar a estimação de um modelo linear misto. O método deriva seu nome devido à possibilidade de um modelo apresentar tanto efeitos fixos como aleatórios, porém é bom fazer um aviso: a nomenclatura utilizada nesse modelo é proveniente da bioestatística, que chama de efeitos fixos aqueles que são invariantes na população, e efeitos aleatórios aqueles que possuem uma distribuição de probabilidade que assume um valor para cada indivíduo.

Para compreender essas definições, vamos utilizar um exemplo do pacote lme4. Abaixo, fazemos uma regressão simples sobre os dados do dataset sleepstudy. Ele é proveniente de um estudo onde indivíduos foram restritos a 3 horas de sono por noite, e a cada dia seu tempo de reação foi observado.

library(lme4)
library(ggplot2)

ggplot(sleepstudy, aes(Days, Reaction, colour = Subject)) +
geom_point() +
geom_smooth(method = "lm", colour = "black", se = FALSE)

Como podemos ver, há indivíduos que se mantém consistentemente abaixo da reta de regressão, pois devem possuir tempo de reação menor de modo generalizado, enquanto há outros que estão sempre acima. Isso reflete o fato de que a amostra não possui observações independentes (pois é feita para cada indivíduo ao longo de 10 dias), e não podemos utilizar o modelo linear clássico. A solução oferecida por um modelo linear misto é gerar um componente aleatório que é específico a cada indivíduo, de modo que podemos ter, para cada um, um intercepto e uma inclinação distintas. Para fazer isso, basta utilizar a função lmer:

m4 <- lmer(Reaction ~ Days + (1|Subject) + (0 + Days|Subject),
data = sleepstudy)

summary(m4, correlation = FALSE)

Linear mixed model fit by REML ['lmerMod']
Formula: Reaction ~ Days + (1 | Subject) + (0 + Days | Subject)
Data: sleepstudy

REML criterion at convergence: 1743.7

Scaled residuals:
Min 1Q Median 3Q Max
-3.9626 -0.4625 0.0204 0.4653 5.1860

Random effects:
Groups Name Variance Std.Dev.
Subject (Intercept) 627.57 25.051
Subject.1 Days 35.86 5.988
Residual 653.58 25.565
Number of obs: 180, groups: Subject, 18

Fixed effects:
Estimate Std. Error t value
(Intercept) 251.405 6.885 36.513
Days 10.467 1.560 6.712

O modelo acima possui tanto intercepto e inclinação populacionais, como também coeficientes correspondentes para cada um dos indivíduos. No formato acima, supomos que os coeficientes individuais não são correlacionados (note que são escritos separadamente), o que pode ser testado, porém está fora do escopo do post de hoje. A partir desse modelo, podemos visualizar as retas de regressão, e compará-las com a reta que seria estimada ao fazer uma regressão para cada indivíduo:

mixed_mod <- coef(m4)$Subject
mixed_mod$Subject <- row.names(mixed_mod)

ggplot(sleepstudy, aes(Days, Reaction)) +
geom_point() +
theme(legend.position = "none") +
facet_wrap(~ Subject, nrow = 3) +
geom_smooth(method = "lm", colour = "cyan3", se = FALSE,
size = 0.8) +
geom_abline(aes(intercept = `(Intercept)`, slope = Days,
color = "magenta"),
data = mixed_mod, size = 0.8) +
theme_bw()

Como podemos ver, as retas são diferentes (sendo a azul a regressão OLS), o que ocorre pois as regressões do modelo misto são aproximadas em direção à média de todas elas.


________________________
(*) Para entender mais sobre estimação de modelos e regressão, confira nossos Cursos de Econometria e Machine Learning.

Compartilhe esse artigo

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email
Print

Comente o que achou desse artigo

Outros artigos relacionados

Quais são as ferramentas de IA?

Um aspecto crucial dos Agentes de IA é a sua capacidade de tomar ações, que acontecem por meio do uso de Ferramentas (Tools). Neste artigo, vamos aprender o que são Tools, como defini-las de forma eficaz e como integrá-las ao seu Agente por meio da System Prompt. Ao fornecer as Tools certas para o seu Agente — e ao descrever claramente como essas Tools funcionam — você pode aumentar drasticamente o que sua IA é capaz de realizar.

Otimizando um Portfólio de Investimentos com Machine Learning

A construção de portfólio ótimo refere-se ao processo de alocar eficientemente capital entre um conjunto predefinido de ativos ou títulos. O campo da construção de portfólio tem sido extensivamente estudado por acadêmicos e profissionais desde a década de 1950, quando Markowitz introduziu sua inovadora abordagem de média-variância para a construção de portfólio. Diante disso, podemos melhorar o processo de alocação de peso de um investimento em um portfólio através do Aprendizado não supervisionado com a aplicação do Hierarchical Risk Parity (HRP). Neste exercício, realizamos uma introdução ao método e mostramos os resultados de um exemplo criado através do Python.

Como usar IA + Python para o Mercado Financeiro?

Neste post, mostramos como a Inteligência Artificial, aliada à linguagem Python, está revolucionando o mercado financeiro. Exploramos as principais áreas onde essa tecnologia pode ser aplicada — como gestão de carteiras, análise de demonstrações contábeis, estratégias quantitativas, trading e análise macroeconômica — com foco em aplicações práticas e exemplos voltados para o contexto brasileiro.

Boletim AM

Receba diretamente em seu e-mail gratuitamente nossas promoções especiais e conteúdos exclusivos sobre Análise de Dados!

Boletim AM

Receba diretamente em seu e-mail gratuitamente nossas promoções especiais e conteúdos exclusivos sobre Análise de Dados!

como podemos ajudar?

Preencha os seus dados abaixo e fale conosco no WhatsApp

Boletim AM

Preencha o formulário abaixo para receber nossos boletins semanais diretamente em seu e-mail.