O Comitê de Política Monetária (Copom), em sua última reunião resolveu aumentar a taxa básica de juros em 50 pontos-base, mesmo a despeito do crescimento na margem de 0,6% do PIB, divulgado curiosamente no mesmo dia. Sobre isso, aliás, eu escrevi aqui. Sempre que o Banco Central inicia um processo de contração monetária (aumento de juros), as pessoas geralmente me perguntam se isso era realmente necessário. No contexto atual, com baixo crescimento, essas pessoas têm aumentado sensivelmente. No post atual eu encaminharei a discussão para uma questão que tem sido levantada por alguns economistas: os efeitos de termos uma taxa de desemprego em níveis historicamente baixos.
Em economia, quando utilizamos o termo natural estamos fazendo referência a uma taxa que não interferiria no equilíbrio macroeconômico. Nesse sentido, uma taxa de desemprego natural (a famosa NAIRU) seria aquela condizente com uma inflação estável e crescimento sustentável, por exemplo. Como pode ser visto no gráfico abaixo, a taxa de desemprego aberto tem caído sistematicamente nos últimos 10 anos, por vários motivos, que já discuti em outras oportunidades nesse site. Nesse caso, nós poderíamos nos perguntar: será que a taxa de desemprego efetiva está acima ou abaixo da taxa de desemprego natural da economia brasileira?
Um problema para o analista diante dessa pergunta é definir a variável taxa de desemprego natural, que não é observável, logo deve ser estimada, estando sujeita a diferentes metodologias e, claro, incerteza. Há muitos trabalhos que tentam estimar essa variável para o Brasil. No ano passado, por exemplo, uma pesquisa do Banco Central perguntou a instituições de mercado qual seria esse número mágico para o país. A mediana e a moda dessa amostra ficaram ambas em 6,5% - um valor maior, por exemplo, do que a média dos últimos 12 meses, que foi de 5,5%.
Para contornar esse problema, peço ao leitor que observe o primeiro gráfico, com o mesmo título desse post. Feitos os ajustes necessários, o que se percebe é que a massa salarial tem crescido mais do que o produto por trabalhador (que indicaria a produtividade do fator trabalho). Adicionei, para facilitar a interpretação, uma tendência linear para ambas as séries, dada a forte sazonalidade da massa salarial - causada pelo décimo-terceiro. Em outros termos, essa é uma evidência de que a taxa de desemprego efetiva - que em abril foi de 5,8% - está abaixo daquela considerada natural, i.e., que não causaria pressão inflacionária. Deixada, portanto, os choques de oferta de lado, o que se vê é uma pressão de demanda sobre o nível geral de preços, que vem causando a aceleração da inflação, como pode ser visto no gráfico abaixo.
Nesse contexto, queira o governo ou não, o problema maior da economia brasileira atualmente é a produtividade. Diante de uma taxa de desemprego baixa, não dá para crescer sem aumentá-la. E o que é pior: sem aumentá-la, há pressão inflacionária, dado o descompasso com o crescimento dos salários. É justamente por ver essa conjuntura que o Banco Central não teve outra alternativa a não ser começar a aumentar a taxa básica de juros, visando causar algum retorno da taxa de desemprego para aquela condizente com a não aceleração da inflação. Afora, claro, os problemas de expectativas.
Seguindo as lições de Machado de Assis, portanto, leitor, parece ser necessário muitas repetições para que o governo Dilma ouça os economistas que estão dizendo isso há um bocado de tempo: é preciso aumentar a competitividade da economia, caso o objetivo seja crescer sem pressões inflacionárias. Ademais, a exploração pura e simples do trade-off entre inflação e desemprego está se mostrando custosa demais, porque mais inflação, no final das contas, acaba afetando o consumo; que era o alvo maior dos incentivos desse governo. Ou seja, uma hora, leitor, não tem jeito: é preciso respeitar o que está no livro-texto. Por mais teimoso que você seja.