
Em economia, quando utilizamos o termo natural estamos fazendo referência a uma taxa que não interferiria no equilíbrio macroeconômico. Nesse sentido, uma taxa de desemprego natural (a famosa NAIRU) seria aquela condizente com uma inflação estável e crescimento sustentável, por exemplo. Como pode ser visto no gráfico abaixo, a taxa de desemprego aberto tem caído sistematicamente nos últimos 10 anos, por vários motivos, que já discuti em outras oportunidades nesse site. Nesse caso, nós poderíamos nos perguntar: será que a taxa de desemprego efetiva está acima ou abaixo da taxa de desemprego natural da economia brasileira?
Um problema para o analista diante dessa pergunta é definir a variável taxa de desemprego natural, que não é observável, logo deve ser estimada, estando sujeita a diferentes metodologias e, claro, incerteza. Há muitos trabalhos que tentam estimar essa variável para o Brasil. No ano passado, por exemplo, uma pesquisa do Banco Central perguntou a instituições de mercado qual seria esse número mágico para o país. A mediana e a moda dessa amostra ficaram ambas em 6,5% - um valor maior, por exemplo, do que a média dos últimos 12 meses, que foi de 5,5%.
Para contornar esse problema, peço ao leitor que observe o primeiro gráfico, com o mesmo título desse post. Feitos os ajustes necessários, o que se percebe é que a massa salarial tem crescido mais do que o produto por trabalhador (que indicaria a produtividade do fator trabalho). Adicionei, para facilitar a interpretação, uma tendência linear para ambas as séries, dada a forte sazonalidade da massa salarial - causada pelo décimo-terceiro. Em outros termos, essa é uma evidência de que a taxa de desemprego efetiva - que em abril foi de 5,8% - está abaixo daquela considerada natural, i.e., que não causaria pressão inflacionária. Deixada, portanto, os choques de oferta de lado, o que se vê é uma pressão de demanda sobre o nível geral de preços, que vem causando a aceleração da inflação, como pode ser visto no gráfico abaixo.
Nesse contexto, queira o governo ou não, o problema maior da economia brasileira atualmente é a produtividade. Diante de uma taxa de desemprego baixa, não dá para crescer sem aumentá-la. E o que é pior: sem aumentá-la, há pressão inflacionária, dado o descompasso com o crescimento dos salários. É justamente por ver essa conjuntura que o Banco Central não teve outra alternativa a não ser começar a aumentar a taxa básica de juros, visando causar algum retorno da taxa de desemprego para aquela condizente com a não aceleração da inflação. Afora, claro, os problemas de expectativas.
Seguindo as lições de Machado de Assis, portanto, leitor, parece ser necessário muitas repetições para que o governo Dilma ouça os economistas que estão dizendo isso há um bocado de tempo: é preciso aumentar a competitividade da economia, caso o objetivo seja crescer sem pressões inflacionárias. Ademais, a exploração pura e simples do trade-off entre inflação e desemprego está se mostrando custosa demais, porque mais inflação, no final das contas, acaba afetando o consumo; que era o alvo maior dos incentivos desse governo. Ou seja, uma hora, leitor, não tem jeito: é preciso respeitar o que está no livro-texto. Por mais teimoso que você seja.

