
A tabela acima resume alguns dados colhidos da PNAD. Antes de mais nada, uma rápida introdução. Existem dois conceitos agregados importantes quando se faz uma análise sobre mercado de trabalho. Existe a população total - no caso da PNAD acima de 10 anos - e a população economicamente ativa (PEA). A razão entre PEA e população total é chamada de taxa de participação, isto é, a parcela da população que ou está trabalhando, ou está em busca de emprego. Guarde esse conceito, voltaremos a ele daqui a pouco.
Nesse contexto, a PEA é a soma da população ocupada (PO), que tem alguma fonte de renda, com a população desocupada (PD), que está procurando emprego. Em termos simplificados, significa dizer a redução de pessoas desocupadas ocorre por dois fatores: i) as empresas contratam mais do que demitem (PO aumenta); ii) menos pessoas entram na PEA, procurando emprego (PEA diminui). Abaixo um resumo - o "d" significa variação.
PEA = PO + PD
dPEA = dPO + dPD
dPD = dPEA - dPO
Explicado o conceito, vamos à PNAD. Para relacionar aos dados do Ministério da Educação, me concentrarei no período entre 2009 a 2012 (último ano disponível) da tabela acima. Nesse período é possível verificar que a população de 10 ou mais cresceu quase 6 milhões, enquanto a PEA encolheu em cerca de 90 mil pessoas. Pelo fato da PEA ter encolhido e a população de 10 ou mais ter crescido, a taxa de participação se reduziu de 62,1% para 59,9% entre 2009 e 2012. Isso, entretanto, não diz muita coisa em termos de mercado de trabalho, já que o encolhimento global da PEA parece pouco, à primeira vista. Se abrirmos por grupos de idade, as coisas começam a ficar um pouco mais claras.
Entre a população de 15 a 24 anos - diretamente afetada pelos programas do governo federal - o encolhimento da PEA foi bastante vultuoso: mais de 2 milhões de pessoas deixaram a população economicamente ativa entre 2009 e 2012. A população total nesse grupo caiu em 300 mil pessoas. Nesse balanço entre queda da PEA (que reduz) e queda da população (que aumenta) a taxa de participação (PEA sobre a população total) nesse grupo saiu de 57,6% para 53,8%. Quase 4 pontos percentuais de redução.
O comportamento é similar para o grupo de 25 a 29 anos. A população caiu 500 mil e a A PEA declinou em quase 800 mil. Logo, a taxa de participação (PEA/População) caiu de 83,6% para 81,6%. Queda de dois pontos percentuais.
Nesse contexto, observa-se que a queda da taxa de participação é bastante significativa no grupo de 15 a 29 anos. Os dados revelam ainda que essa queda é explicada basicamente pela população economicamente ativa (PEA). No balanço com a população total, a queda da PEA é o que ditou a redução da taxa de participação.
Para complementar o raciocínio, pela fórmula colocada acima a queda do desemprego se dá pela redução da PEA ou pelo aumento da população ocupada (mais contratações que demissões). Já sabemos que a PEA, de fato, caiu. Além disso, houve queda significativa no grupo de 15 a 29 anos. E a ocupação, como se comportou?
No agregado, a ocupação se elevou em mais de 2 milhões de pessoas entre 2009 a 2012. Combinado com o declínio da PEA, a população desocupada se reduziu igualmente em mais de 2 milhões. Significa dizer que em termos agregados, a desocupação se reduziu porque a ocupação aumentou (mais contratações do que demissões). Interessante, entretanto, é observar novamente por grupos de idade.
A ocupação se reduziu tanto na faixa etária de 15 a 24 anos quanto na de 25 a 29. Mas como a redução da PEA foi muito maior, a desocupação caiu consideravelmente nesses grupos. Quase um milhão e meio de pessoas entre 15 e 24 anos deixaram de ser consideradas desocupadas. A queda da PEA explica muito isso.
No quadro geral, a taxa de participação sobe de 2001 a 2008. De 2009 a 2012, entretanto, ocorre uma queda significativa entre alguns grupos etários. Em função, basicamente, da redução da população economicamente ativa. O que ocorreu nesse último período?
Os dados do Ministério da Educação ajudam a explicar. Os programas do governo, principalmente Pronatec, FIES e Prouni cresceram significativamente nesse período. Se você complementar essa informação com o fato de que a renda das famílias avançou entre 2003 a 2013 de forma muito pronunciada, chegamos à conclusão que as pessoas que aderiram aos programas do governo federal deixaram de pressionar o mercado de trabalho. E isso é uma hipótese muito boa para explicar o porquê da taxa de desemprego estar baixa, a despeito do também baixo crescimento da economia brasileira nos últimos anos. É claro que é preciso ser cético. Os programas do governo não explicam a estória toda. Como divulgado pela GV, existem jovens nessa faixa etária que nem estudam e nem trabalham. É assunto para outro post, entretanto.
Em outros termos, os dados revelam que deve-se olhar com cuidado o fato de que o desemprego baixo no período recente ser um "fenômeno demográfico". O crescimento da população, realmente, tem sido menor, mas o que parece responder melhor a queda do desemprego é a redução da população economicamente ativa. E essa está em sintonia com os programas governamentais.
Em algum momento essas pessoas que "deixaram" o mercado de trabalho voltarão. Estaremos prontos para recebê-las? Ou seja, conseguiremos aprovar o conjunto de reformas que aumentaria a produtividade antes da pressão no mercado de trabalho voltar a ocorrer? Responda você, leitor, posto que eu... 🙂
Os dados da PNAD aqui.