
A opção por reduzir os juros reais, abaixo de 2% ao ano, em uma economia com pleno emprego do fator trabalho, desancorou de vez as expectativas de inflação, como pode ser visto no gráfico acima. Nele é possível verificar que a expectativa no mês j para a inflação média dos próximos cinco anos encontra-se não apenas elevada, fora do centro da meta, como em ascensão. Sendo essas expectativas um importante canal de transmissão da política monetária - em alguns modelos, o principal -, o fato do Banco Central "ignorá-las" torna o seu próprio trabalho menos produtivo.
Dito isto leitor, é importante ressaltar que nenhum economista sério é a favor de termos juros reais elevados. O problema que muitos na profissão estão chamando atenção desde algum tempo é que esse erro de diagnóstico lá atrás força agora uma postura mais conservadora da política monetária, isto é, maior elevação da taxa básica visando ancorar novamente as expectativas de inflação. Isto porque, como o próprio Banco Central deixou claro no último relatório de inflação, nem no 4º trimestre de 2015, com juros nesse patamar, a inflação efetiva converge para o centro da meta, de 4,5%. É um sinal inequívoco de que os juros nesse patamar são incoerentes com inflação estável.
Em outros termos, a decisão de hoje do Copom é um reflexo desse erro de diagnóstico: optar por reduzir o ritmo de ajuste hoje, após a divulgação de inequívoca resistência inflacionária no IPCA de 2013, será um tiro no pé. Esperamos que a autoridade monetária haja de forma autônoma, frente a esse cenário. A aguardar.